Entender os mecanismos moleculares envolvidos na degradação celular é importante para que se possa desenvolver medidas para um envelhecimento mais saudável. Tal interesse cresceu devido ao aumento na expectativa de vida e no resultante aumento na quantidade de idosos na população.
Na natureza é possível encontrar seres com longevidade extremamente longa, chegando a viver múltiplos séculos, ou até não apresentando senescência. O estudo comparativo entre o mecanismo de envelhecimento destes seres com o de organismos de vida mais curta pode ser útil para o melhor entendimento e futuro isolamento de elementos que contribuem para o retardo do processo de envelhecimento.
Os bivalves são bons modelos para tais estudos, pois sua idade pode ser constatada pelo número de linhas em sua concha, sendo possível, então, fazer esta mensuração em indivíduos retirados diretamente de seu habitat. Estes organismos são, também, estruturalmente mais simples que mamíferos mais recentes, apesar de manter características semelhantes de envelhecimento.
Comparações entre bivalves de diferentes ritmos de envelhecimento e provenientes de diferentes ambientes, mostram que os organismos que vivem mais não apresentam tanta diminuição na concentração de elementos antioxidantes quanto os de vida mais curta. Isto indica que estas substâncias, como, por exemplo, o Superóxido dismutase (SOD), são importantes para a manutenção de uma maior expectativa de vida. Entretanto, a aplicação de antioxidantes em indivíduos vivos não apresenta sucesso conclusivo no retardamento do envelhecimento.
Apesar de estudos com seres com senescência lenta ou inexistente ainda serem muito recentes, especialmente com bivalves, é possível observar uma série de fatores que, possivelmente, contribuem para a drástica diferença de longevidade dentre as espécies de vida longa e curta, De forma geral, a taxa metabólica, ingestão calórica e temperatura são mais lentas em indivíduos que vivem mais. Organismos que vivem em ambientes polares tendem a viver mais, assim como os que têm o hábito de reduzir drasticamente sua taxa metabólica por um período de tempo, como uma forma de hibernação. Esta redução metabólica, por sua vez, reduz a ingestão de calorias e a temperatura do corpo. Indivíduos que vivem em ambientes com pouco oxigênio também apresentam longevidade maior.
O aumento de longevidade verificado nestas situações pode ser relacionado à teoria mitocondrial do envelhecimento, que considera a atividade mitocondrial como fator de fundamental importância na formação de radicais livres, visto que o surgimento de radicais livres, causadores de dano celular relacionado ao envelhecimento, é mais prevalente em material mitocondrial do que no nuclear. Estes radicais livres podem ser formados a partir de falhas na cadeia respiratória. O oxigênio, que deveria ser completamente convertido em água e dióxido de carbono, se mantém reativo sob a forma de um superóxido, convertendo-se em radicais livres. Os danos causados por estes radicais livres, quando ocorridos na estrutura da mitocôndria, tornam essa cadeia respiratória menos eficiente, gerando ainda mais erros, resultando em um ciclo vicioso.
Indivíduos que apresentam baixa taxa de metabolismo durante uma época do ano, irão apresentar um transporte de elétrons mais lento na cadeia respiratória, contribuindo para a redução de erros neste mecanismo. Mais estudos devem ser feito para o entendimento de como estes indivíduos apresentam um aumento tão drástico em sua longevidade, mesmo que a redução de metabolismo seja sazonal.
Organismos que vivem sob condições de restrição ou ausência de oxigênio tendem a apresentar também senescência mais lenta. Isto pode ser explicado, em parte, pelo acúmulo de material de degradação resultante de metabolismos dependentes de maiores concentrações de oxigênio. O resultado é a glicação, isto é, a ligação de um açúcar e o grupo amina de uma proteína sem a mediação de uma enzima, induzindo à ligação cruzada entre proteínas e surgimento de mutações. O metabolismo anaeróbico resulta em elementos mais fáceis de serem aproveitados pelo organismo, como ácidos orgânicos de cadeia curta e álcoois.
Conclui-se que a explicação para as drásticas diferenças na expectativa de vida entre algumas espécies é multifatorial. São necessários mais estudos a respeito de indivíduos com senescência reduzida, abordando desde mecanismos bioquímicos até evolutivos e ecológicos.
Referências:
Abele, D; Philipp, E (2009). Masters of Longevity: Lessons from
Long-Lived Bivalves – A Mini-Review. Gerontology 2010, 56:55-65. (http://www.karger.com/Article/Pdf/221004)